Identidade na era da www

As velocidades nessa pós-modernidade estão de tal forma aceleradas que uma das palavras mais conhecidas e repetidas no mundo, é o nome do mecanismo de busca Google. O termo Google foi criado há uns dez anos, em 1998, por Larry Page e Sergey Brin a partir de uma variação homófona, por motivo de registro de marca, do termo matemático googol, que expressa um número grande: 1 seguido de 100 zeros (1E100). O vocábulo Googol também é recente, foi criado na década de 1940 por Milton Sirota, atendendo ao pedido de seu tio o matemático Edward Kasner, que também registrou googolplex. O Google, em apenas seis anos após sua criação, passou a ser utilizado como verbo em alguns países e "to google" ou "gugar" passou a significar "pesquisar na internet".*

A inter-relação homem-internet apresenta algumas peculiaridades como o hábito com a velocidade de resposta (feedback), o instantâneo-volátil, que adentrou em nosso cotidiano. Nos adolescentes a típica impaciência e falta de perseverança, frente a frustração é reforçada por tal lógica e ao não encontrarem imediatamente algo na rede, eles já partem para um outro tema, um outro "click". Esta tendência se desdobra e se reforça, gerando a crença que se não está na internet não existe 'no mundo'. Uma perigosa inversão na qual a existência de uma informação "virtual" é tida como prova de realidade.

Na virtualidade, como em outros fenômenos sociais, aspectos positivos se mesclam aos negativos. A velocidade de obtenção das informações amplia as possibilidades dos recursos reflexivos e encurta os espaços, "o outro lado do mundo está a um click de distância". Esta vinculação tempo-espaço cria uma lógica que pode ser expressa como: se rápido logo perto. Que pode criar a ilusão: se demorou já passou ou não existe mais. Em tais condições de contínuo confronto "existência-click-tempo", a idéia de identidade não poderia ser diferente, passou a ser associada a mudança. Neste "tempo-espaço" as experiências mais recentes já são parte de um passado... "o eu e o que sou já foi"... "não sou, estou sendo... fui..."... "o eu volátil" ... estes e muitos outros termos colocam em pauta a "estabilidade" e a "base segura" como determinantes da identidade. Certamente que neste (eterno) período de mudanças muitos embates afloram, as antigas idéias definidoras da identidade colidem com os "bits" de novos hábitos. Mas nada que o mundo não tenha visto com o advento do telefone ou da aviação, no qual as pessoas eram colocadas em contato umas com as outras em questão de horas, suprimindo meses de viagens ou de espera da correspondência. Como disse o velho mestre, nos anos 90: "telepatia! a humanidade não precisa mais da telepatia!! hoje temos o celular!". Assim, as lógicas subjacentes às expressões instantaneidade e a descartabilidade, até então da área mercadológica, invadiram outras instâncias do cotidiano e tornaram os elementos mais efêmeros, descontínuos e de aparência enganosa, inclusive os sentimentos. (BAUMAN, 2001; SOAR FILHO, 2005).

Para ilustrar tais idéias, um pequeno fato do início deste século XXI: "durante uma rapida palestara para comunicar os resultados de sua empresa, na área da internet, o presidente da renomada corporação utilizou um tempo verbal inadequado e em questão algumas horas todas as bolsas do mundo registraram uma forte queda. Disse ele: " ... os resultados poderiam ser melhores ..." ." Não houve análise de quão bons foram, não houve comparação alguma, o caos estava instalado! Este fato que nos remete a pensar na famosa frase de Marx " tudo que é sólido desmancha no ar" e também nos permite uma adaptação para a volatilidade desse mundo internáutico: " tudo que é insólito sublima no virtual" .

Referências bibliográficas

AMERICAN Heritage Dictionary. v. 3.5, California: Softkey, 1994. (CD-ROM)
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.
SOAR FILHO, Ercy. Para que terapia?: estudo interdisciplinar sobre o self contemporâneo. Florianópolis, 2005. Tese (Doutorado Interdisciplinar), Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas.

* Poucos se lembram do "Altavista".

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