Sobre o casal e as contas

1) O assunto " dinheiro e contas" deve ser discutido antes do casamento?

Dependendo se você entende por " discutido" por conversado, a resposta é sim.

Considere as etapas tradicionais do enlace: paixão, namoro, noivado e casamento. Antes do casamento há, nas tradições sociais, um período para o casal se acertar, para sair da fase da paixão e pisar em terra firme antes de um passo maior. No período de noivado com os preparativos para a casa, móveis, festa de casamento, etc., o casal tem a oportunidade de praticar e ajustar o tema " contas" . Este período, também, é utilizado para os projetos conjuntos e para se imaginarem no futuro. O namoro e o noivado devem ser utilizados para realizar tais acertos, como um treino para a vida conjugal. Os problemas iniciais não resolvidos ou escamoteados, irão se arrastar e poderão eclodir numa crise conjugal. Sim, certamente que a proteção familiar antes do enlace é maior, mas os casais estão ficando mais independentes e com papéis eqüitativos.

Quando o casal se une na fase da paixão, sem tempo para se conhecer e fazer os ajustes necessários, poderá ter problemas futuros. Dinheiro é um dado de realidade muito forte e é um elemento o oposto à paixão. Se o casal não consegue conversar sobre dinheiro é muito provável que não tenha saído da fase da paixão ou que tenha outros problemas.

2) Como deve ficar a divisão das contas?

Como o casal se sentir bem.

Já ouvi várias modalidades de divisão, o mais típico são os casais que realizam juntos os seus projetos. Estes casais unem seus rendimentos, tem conta bancária conjunta, dividem seus pertences pessoais, ou seja, nota-se uma salutar cumplicidade no par, no qual o projeto do casal vem em primeiro lugar. Os casais que já tem algum problema a tendência é de cada qual se isolar, os projetos conjuntos perdem o sentido e, muitas vezes, os rendimentos são mantidos totalmente separados.
Embora existam exceções já se foi o tempo da mulher cuidando da casa e do homem provedor. Nos consultórios tem sido comum aparecem casais em que ambos possuem trabalho remunerado. Para estes casais as combinações são muito dialogadas e se acertam em vários âmbitos: sexual, financeiro, tarefas domésticas, passeios, férias, estudo, desenvolvimento profissional, congressos, etc. As crises conjugais estão se deslocando da falta de opções e da mesmice para a angústia gerada pelas várias opções possíveis.
Gosto de uma definição simplista de burocracia, que um grande amigo me enunciou: " burocracia é a troca das relações afetivas pelas formais" . E, mesclando com a tua questão sobre divisão das contas podemos pensar assim: quando há uma boa relação afetiva a formalidade é dispensável e a divisão ocorre naturalmente.

3) E quando que a mulher ganha mais que o homem?

Não vejo diferença ou qualquer problema, salvo se um deles se sentir de alguma forma intimidado.
Note o desenrolar deste teu questionário, ao iniciar com a questão sobre a necessidade de discutir questões financeiras, você já está induzindo a visão de equidade do casal, seria diferente se iniciasse com uma questão démodé como: a mulher deve obedecer ao marido? A sociedade é assim, um verdadeiro mosaico no qual o novo convive com o arcaico. Perguntar se tem problema quando ela ganha mais, é mais ou menos como perguntar se ela deve obedecer, em outras palavras, se ela deve ser submissa e manter o homem na posição de macho inconteste. Se a resposta for sim, então este mesmo macho terá de se posicionar em seu papel e não poderá permitir que ela trabalhe, pois para tal linha de pensamento o lugar da mulher é na proteção do lar.

4) Você recebe, em seu consultório, casais com problema na relação por causa da divisão das contas?

Os casais que procuram ajuda têm vários problemas mais emergentes. Divisão de contas como queixa principal e motivador único para a terapia eu nunca recebi. Os casais que procuram por auxílio vêm com outros motivadores iniciais como brigas, falta de interesse sexual, falta de companheirismo, traição, depressão, etc., nestes casos a questão da divisão de contas acaba aparecendo, seja de forma direta ou indireta.


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