O café e a abstinência de cafeína

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Sob as mais diversas justificativas, as drogas psicoativas estão disseminadas em todas as sociedades e o mais interessante é que algumas delas, como o café e o açúcar, têm seus usos tão amplamente difundidos que passaram a ser consideradas substâncias inócuas.
A cafeína (ou técnicamente falando: a trimetilxantina) causa dependência física e psíquica e está de tal forma arraigada na sociedade brasileira que desde a mais tenra infância se torna parte do cotidiano - nas mamadeiras de leite com um "pouquinho" de café para os bebês das creches, nos "refrigerantes" e achocolatados das crianças e nos "energéticos" dos jovens.
O efeito da cafeína em nosso organismo não é propriamente de um "estimulante", alguns autores inclusive evitam este termo e descrevem seu efeito com a analogia de um tijolo debaixo do pedal de freio do carro. O carro não irá desenvolver velocidades maiores que seu motor permite, mas terá problemas na redução de velocidade. A exemplo de qualquer outra droga psicoativa, a ingestão de cafeína deve ser evitada ou, ao menos, que seu uso seja consciente e, portanto, moderado.Alguns estudos relatam que a ingestão de até 2 xícaras/dia de café está relacionada a efeitos benéficos como o antioxidante, contudo outros alimentos como as frutas cítricas, aveia, uva, cenoura etc., também possuem efeitos protetores ao organismo e podem ser alternados com a injestão moderada de café. Em dosagens maiores os efeitos "maléficos" do café se sobrepõe aos benéficos sobretudo quanto a dependência química e depleção de nutrientes.

No "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais" DSM-IV, consta:
"O aspecto essencial é uma síndrome característica de abstinência devido à cessação ou redução abrupta no uso de produtos contendo cafeína após um uso diário prolongado. A síndrome inclui cefaléia e pelo menos um dos seguintes sintomas: acentuada fadiga e sonolência, acentuada ansiedade ou depressão, náusea ou vômitos. Esses sintomas parecem ser mais prevalentes em indivíduos com uso pesado (500mg/dia), mas podem ocorrer em indivíduos com uso leve (100mg/dia). Os sintomas podem causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Os sintomas não devem ser decorrentes dos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral, nem devem ser melhor explicados por outro transtorno mental."
Para se ter uma ideia das quantidades de cafeína disponíveis, exemplificamos com três produtos de 100 mL: refrigerantes não deveriam conter mais de 20 mg; café coado cerca de 60 mg e café expresso aprox. 96 mg (havendo grande variação conforme o tipo de café ). Se um indivíduo ingere algumas xícaras de café expresso em um único dia, pode ultrapassar a 1 g de cafeína, uma dose prejudicial, sobretudo, ao sistema cardiovascular. A terminologia "leve/pesado" deve ser utilizada somente na descrição geral do problema, pois, como é sabido, as reações e suscetibilidades individuais apresentam grande variação, mesmo dentre os entes de uma mesma família.

As tentativas de reduzir ou cessar o uso da cafeína geram desconfortos, e os primeiros sintomas da abstinência iniciam após 12h da última ingestão e podem perdurar por até uma semana. Os principais sintomas são:
a) dor de cabeça,
b) indisposição,
c) dificuldade de manter a atenção,
d) alteração de humor (geralmente irritabilidade)
e) sonolência e fadiga,
f) constipação,
g) náusea,
h) forte anseio por cafeína e
i) em alguns casos alucinação olfativa de café, vômitos e febre
O melhor é reduzir progressivamente a dose diária de cafeína e após algumas semanas alternar os dias de consumo (em um dia cafeína, no outro não). Para aqueles que desejam cessar o uso da cafeína, uma boa prática é reduzir progressivamente o consumo e programar a última dose para a sexta-feira de manhã. Desta forma, o sábado e o domingo podem ser utilizados para repouso, pois os sintomas mais fortes da abstinência tendem a perdurar por até 3 dias após a última dose. É interessante notar que o corpo necessita de muitas semanas para "desmontar" toda a estrutura criada para absorver a droga. Portanto, após ter conseguido parar, o corpo irá considerar qualquer cafeína ingerida (incluso chás, refrigerantes, chocolates etc.) como um aviso para manter a "estrutura montada", o que pode ser traduzido em uma facilidade para recaídas e novos períodos de adição.
Neste processo de controle sobre uma droga perpetuada em hábitos familiares, os quais remetem a situações prazerosas, o conhecimento das fontes de angústias e frustrações torna-se fundamental.



A adenosina é uma substância que sinaliza o cansaço (a hora do descanso) e a cafeína bloqueia os receptores de adenosina, "enganando" o cérebro e suprimindo a sensação de sono, mas sem gerar energia, apenas retardando a percepção da fadiga. Com o uso crônico de cafeína o corpo gera mais receptores de adenosina, afinal o descanso é vital! Nos primeiros dias sem café, a abstinência de cafeína faz com que uma grande quantidade de receptores de adenisina estejam disponíveis, o que aumenta a sinalização para descanso (gera uma forte sonolência) e também o excesso da adenosina atua sobre os receptores A2A, modulando a sinalização de AMPc e glutamato, o que pode iniciar crises de cefaléias. Após algumas semanas o corpo ajusta a quantidade de receptores para os níveis "normais".



Quantidades aproximadas de cafeína de alguns produtos, por copo ( 240 mL ) ou 100 gramas.


Chá branco 15 mg / copo

Chá verde 25 mg / copo

Chá mate 50 mg / copo

Café espresso 200-350 mg / copo

Café instantaneo 60 mg / copo

Bebida energética 75 mg / copo

Chocolate ao leite 70 mg / 100 g

Chocolate em pó 90 mg / 100 g



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