O álcool e a sarcopenia

Quando ingerimos álcool, o fígado precisa trabalhar para eliminá-lo, já que se trata de uma substância tóxica. Nesse processo, o álcool é metabolizado em acetato e posteriormente convertido em acetil-CoA, que normalmente entra no ciclo de Krebs (geração de energia ATP). No entanto, quando o consumo de álcool é excessivo ou frequente, a grande produção de acetil-CoA, sobrecarrega o metabolismo, que passa a direcionar o excedente em forma gordura e colesterol. Além disso, o álcool exerce efeitos diretos sobre o tecido muscular, contribuindo para a perda de massa magra (veja abaixo: sarcopenia).

Ciclo água-álcool

O álcool é hidrossolúvel e se dissolve na água corporal, portanto quanto mais água melhor o corpo conseguirá lidar com os efeitos tóxicos, e os músculos retêm muito da água corporal.
Entretanto, o álcool estimula o oposto, aumenta a gordura corporal enquanto diminui a massa muscular. Como os músculos são os principais reservatórios de água do nosso corpo, a perda muscular reduz a quantidade total de água disponível, o que implica diretamente num incremento da concentração de álcool no sangue, aumenta a gordura ... go into loop ...

Sarcopenia

Sarcopenia é a perda progressiva de massa muscular, ocorre com as mudanças hormonais, falta de exercícios físicos, dieta inadequada, alguns medicamentos e/ou doenças e, sim, acelera com o avanço da idade. Um outro acelerador da sarcopenia é o álcool, pois ao ser metabolizado interfere em múltiplos metabolismos da formação e manutenção da massa muscular, a saber:

Inibição da Síntese Proteica: O álcool prejudica a via de sinalização do mTORC1, que é crucial para iniciar a síntese de proteínas musculares (processo anabólico). Isso resulta em menor capacidade do corpo de construir e reparar o tecido muscular.

Ação Miotóxica e Catabolismo: O álcool tem uma ação miotóxica (tóxica para os músculos) e promove um estado catabólico, no qual o tecido muscular é degradado.

Comprometimento do Metabolismo Hepático e Nutricional: A toxicidade hepática induzida pelo álcool prejudica o metabolismo proteico geral e a absorção de nutrientes essenciais para os músculos. Além disso, as calorias do álcool são consideradas "vazias", não fornecem nutrientes úteis, e sua ação inibe outras vias metabólicas importantes.

Disfunção Neuromuscular: O consumo de álcool inibe o trânsito de íons de cálcio para dentro das células musculares (miócitos), o que prejudica o processo de contração muscular e, consequentemente, a força e o controle motor (andar cambaleante).

Estresse Oxidativo: O metabolismo do etanol gera subprodutos tóxicos, como o acetaldeído e espécies reativas de oxigênio (ROS), que causam danos celulares não apenas no fígado, mas em outros órgãos, por ex. a perda da elasticidade da pele.

Impacto Hormonal: O álcool pode afetar os níveis hormonais, como a testosterona (em homens e mulheres), que são importantes para a manutenção da massa muscular.

Efeitos em idosos

Nos idosos, os efeitos do álcool tornam-se muito mais intensos. Além da menor massa muscular e do menor teor de água corporal — bebês tem 75% de água e idosos 55% — e de um metabolismo hepático mais lento, o envelhecimento provoca mudanças no sistema nervoso central.
Com a idade os neurônios tornam-se mais vulneráveis devido: ao menor fluxo sanguíneo cerebral, à redução na disponibilidade de neurotransmissores, à redução na disponibilidade de nutrientes, ao aumento de radicais livres e à menor capacidade de regular a neuroinflamação. Os efeitos do álcool sobre as estruturas cerebrais, são mais severas nos idosos e mesmo pequenas doses causam desorientação, pensamento lentificado, perda de equilíbrio e confusão mental. Enquanto os músculos, fígado e outros órgãos ainda conseguem se recompor, o cérebro envelhecido apresenta menor capacidade de recuperação após a exposição ao álcool. Por isso, mesmo com a mesma dose de sempre, os impactos sobre o sistema nervoso são desproporcionalmente maiores ... o copo pode até ser o mesmo, o problema é que o corpo mudou!

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